Ricardo
Machado
Consciência Negra – 20 de novembro
As
pessoas precisam se conscientizar da importância da raça negra e de sua cultura
na formação do povo brasileiro e da cultura do nosso país. Conhecer melhor
sobre os afro-descendentes que fogem ao estigma da escravidão mais do que
saciar curiosidades, nos ensina que, desde cedo, esses brasileiros impuseram,
com sua existência, o fato de que a cor jamais os condenou à inferioridade
intelectual. Apesar do ambiente que lhes era desfavorável eles alcançaram
admiração e respeito assim como muitos outros que lutaram pela conquista de seu
espaço.
Às vezes estamos muito próximos
de referências históricas importantes e não percebemos, nem tampouco nos
alertam para isso na escola. Quando ouvimos O Guarani, de Carlos Gomes, na abertura da Hora do Brasil, por exemplo, é sem
saber que o nosso compositor erudito era neto de uma escrava forra. Também não
nos damos conta de que o nome Rebouças que batiza viadutos, túneis
e avenidas nas maiores cidades brasileiras homenageia o sobrenome de uma
ilustre família de políticos baianos negros, do século XIX, cujos membros foram
importantes engenheiros, os irmãos André e Antônio Pereira Rebouças Filho,
construtores de ferrovias e obras de grande porte. E no esporte: Ademar
Ferreira da Silva e João do Pulo no atletismo, Leônidas da Silva, e Edson
Arantes do Nascimento (Pelé) no futebol, Janete no basquete, Machado
de Assis na literatura filho de um mulato que pintava paredes (Francisco
José de Assis). Chiquinha Gonzaga (filha de uma
negra Rosa Maria Neves de Lima) na música, o ex-escravo, filho de
negros alforriados, escritor abolicionista Dante Negro do Brasil (João da Cruz e Sousa), recentemente o
Exmo. Ministro do Supremo Tribunal Federal-STF, Joaquim Barbosa. Não
gosto de citar nomes, pois sempre cometo a injustiça de esquecer vários.
No
Brasil não fomos educados como uma nação multicultural e pluriétnica,
precisamos concentrar esforços para ampliar o olhar para além do negro escravo
e reconhecer o valor daqueles afro-descendentes em segmentos como a literatura,
a música, as artes cênicas, as artes plásticas, as ciências, a medicina, o
jornalismo, a diplomacia, a guerra, a política, a religião… É o conhecimento da história real que,
enfim, ainda precisamos resgatar. Há dezenas de personalidades, passagens
históricas e obras relacionadas à cultura afro-descendente que, se conhecidas,
mudarão a perspectiva que temos sobre o povo brasileiro e que foram construídas
com explícita parcialidade e má fé pela historiografia oficial.
Precisamos buscar referências,
pesquisar, demandar, estudar, perceber o nosso entorno, ir além dos livros
didáticos, observar e ouvir a expressão da vida e da cultura nas várias formas
em que ela se apresenta em nosso meio. Repito, vivemos em uma sociedade
multicultural, onde convivem inúmeras etnias e já não é mais aceito que só os
conhecimentos proporcionados pela visão de mundo eurocêntrica, branca, católica
e masculina estejam representados na maneira como montamos os currículos
escolares. A escola é um espaço que é direito de todas as raças. Mas esse é um
direito que para ser respeitado não basta a presença física de seus
descendentes na escola.
Enfim, ideias e práticas
prepotentes de racismo que ainda permeiam a mente e corações de alguns
certamente estão sendo abaladas e eliminadas e as mudanças de atitudes sendo
concretizadas.
“o Brasil não é um país de
população majoritariamente branca, pois 96.795.294 pessoas se declararam
“pretas” ou “pardas”, totalizando 50,74% do total *(Caniello Márcio, Brasil mostra a sua cor)
Às instituições criadas em prol
da causa negra, meus esfuziantes aplausos e que continuem lutando para eliminar
todas e quaisquer práticas racistas. Que o Dia da Consciência Negra sirva, cada
vez mais, para esclarecer sobre a grande contribuição do negro na nossa cultura
e para a luta por uma sociedade melhor e mais igualitária e que a consciência
negra não seja lembrada apenas no vinte de novembro.
Zumbi
somos todos nós!!!
*Ricardo Machado. Administrador de Empresas, Ambientalista.( EcoDebate,
21/11/2012)
**O
Brasil mostra a sua cor. -Caniello , 09 de Maio 2011.
http://cdsa.ufcg.edu.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=836:o-brasil-mostra-a-sua-cor&catid=92:artigos&Itemid=460
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