Cemitério de Brasília
teve grande movimento na véspera do Dia de Finados, 02/11/2012. Foto Fabio
Rodrigues Pozzebom/ABr
Pouco mais de sete em cada dez
cemitérios públicos brasileiros têm problemas de ordem ambiental e sanitária,
de acordo com estudo do geólogo e mestre em engenharia sanitária Lezíro
Marques Silva. O levantamento, concluído em 2011, reuniu dados de mais
de mil cemitérios do país, entre públicos e privados. O pesquisador, que é
professor da Universidade São Judas,
explica que os problemas começam na superfície com a proliferação de animais
vetores de doenças e continuam no subsolo com a contaminação do lençol freático.
“Se o necrochorume escapa do túmulo, ele
pode entrar em contato com o lençol freático, criando uma mancha de poluição
que atinge quilômetros de distância a ponto de contaminar poços e rios”,
explica o geólogo. O necrochorume é um líquido formado durante a decomposição
de cadáveres enterrados, similar ao gerado pelos resíduos sólidos em aterros
sanitários. “Ele é rico em substâncias tóxicas como putrecina, cadaverina e alguns
metais pesados”, explica.
Lezíro Marques informou ainda que a
contaminação do lençol freático ocorre em quase a totalidade dos cemitérios
públicos com problemas ambientais e sanitários. Ele destaca que a saturação
desses equipamentos públicos agravam ainda mais os prejuízos provocados por
essas condições. “Com o esgotamento da capacidade de sepultamento, o que sobra são
terrenos do ponto de vista geológico inadequados, como lençol freático raso,
área de várzea e morro”, critica.
O professor Walter Malagutti, do Departamento de Geologia da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), que
também desenvolve pesquisa na área, explica que não havia a preocupação de
observar os critérios geológicos para construção de cemitérios. “Pode
ocorrer de alguns terem sido implantados em locais inadequados. Muitos estão em
áreas nobres, como as regiões centrais.”
Ele avalia que o ideal seria
considerar os mesmos critérios dos aterros sanitários, como lençol freático
mais profundo possível, rocha impermeável e distância dos centros urbanos, para
construção de cemitérios.
Walter Malagutti explica ainda que
os cemitérios são fonte renovável de contaminação, pois, diferentemente dos
aterros, eles não costumam ser desativados. “Pela legislação brasileira,
depois de 5 anos a 7 anos, quando ficam só ossos, eles são removidos e
colocados outro corpo no local”, relata. Segundo o professor da Unesp, um diagnóstico ambiental dos
locais de enterro já existentes e a observação de critérios geológicos para a
implantação de novos cemitérios são algumas medidas para amenizar a situação.
Já a pesquisa desenvolvida por Lezíro
Marques resultou no desenvolvimento de substâncias capazes de
neutralizar o necrochorume, reduzindo o nível de contaminação. “A
grande meta é não permitir que o líquido extravase”, destacou. Para
tanto, foi criada uma espécie de colchão a ser colocado na sepultura, o qual
possui um líquido que elimina os efeitos dos poluentes. Uma ação semelhante é
conseguida por uma substância que lava o subsolo retirando o necrochorume. “Tem
solução, mas pouco é feito”, avalia.
O geólogo destaca ainda a
necessidade de uma legislação mais específica, que oriente a construção de
lajes de contenção e obrigue uso de substâncias neutralizadoras do
necrochorume.
Os pesquisadores concordam que a
cremação seria a solução mais adequada para a preservação do meio físico. Eles
avaliam, no entanto, que a questão cultural é o principal empecilho para o uso
da técnica. “A cremação é muito incipiente no Brasil. E isso não tem a ver
diretamente com o custo. Enquanto se paga entre R$ 350 e R$ 400 para cremar um
corpo, o enterro mais simples custo no mínimo R$ 2 mil. É uma questão cultural”,
avalia Lezíro.
(Reportagem de
Camila Maciel, da Agência Brasil, publicada
pelo EcoDebate, 19/11/2012)
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