Do
rio que tudo arrasta se diz que ele é violento.
Mas
ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
(Bertold Brecht)
O
que leva um ser humano a torturar seu semelhante? Sadismo, maldade, instintos
primitivos. Os mesmos fatores que estão por trás dos crimes bárbaros que nos
assustam. Nada justifica a tortura. Ficamos mais indignados quando sabemos que
alguns torturadores eram oficiais de alta patente do Exército que faziam curso
no exterior para aprender a macabra arte da tortura. Dia quinze passado o
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve a decisão de 2008 que declarou
como torturador o coronel da reserva Carlos Brilhante Ustra responsabilizando o
militar pelas torturas cometidas no Destacamento de Operações de Informações -
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). O que sabemos é que o
Exército não puniu nenhum torturador militar.
Será que os presidentes da República do período revolucionário não
sabiam da existência da tortura mesmo sendo generais? Que os comandantes das
três armas também não sabiam? Acreditar nessas possibilidades é desmerecer as
Forças Armadas na sua organização. A não ser... Quando a imprensa divulga
crimes bárbaros onde as vítimas são torturadas até a morte ficamos indignados.
Exigimos vingança, pena de morte. E os torturados? (Bertold Brecht)
Os torturadores estão apreensivos e temerosos porque a Comissão da Verdade irá incluir e perpetuar seus nomes na história do nosso país. Espero que seus nomes façam parte dos livros didáticos de História. É importante lembrar que o ilustre advogado Sobral Pinto em 1936 defendeu Luís Carlos Prestes e Harry Berger, líderes da Intentona Comunista de 1935, numa causa célebre em que, procurando livrá-los das condições desumanas a que estavam submetidos na prisão, invocou a Lei de Proteção aos Animais.
Não há defesa para torturadores.
Desobedeceram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a nossa Constituição,
a lei que protege os animais e o inciso III (respeitar a dignidade humana) do
Art. 28 do Estatuto dos Militares. Impuseram sofrimento a quem lutava pela
volta do estado de direito enquanto defendiam e/ou colaboravam com a
ilegalidade, o estado totalitário em nome da Lei da Segurança Nacional. Famílias foram destruídas, pais ainda choram
os filhos desaparecidos, praticaram a barbárie, mataram covardemente,
humilharam seus semelhantes, impuseram a dor moral e continuam soltos como
respeitáveis cidadãos e chefes de família.
Contrariando os princípios que regem os
direitos humanos (definidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
proclamada e adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) em dezembro
de 1948.), o respeito à integridade física e moral do homem, militares
brasileiros, nas décadas de 60 e 70, se transformaram em agentes implacáveis da
repressão, utilizando os mais sofisticados métodos de tortura importados dos
países imperialistas, especialmente dos Estados Unidos, conforme HUGGINS, 1998.
No artigo “A lógica da suspeição: sobre
os aparelhos repressivos à época da ditadura militar no Brasil” de Marionilde
Dias Brepohl de Magalhães (1997), publicado na Revista Brasileira de História, a
tortura constituiu o núcleo do sistema repressivo sendo uma ação arbitrária por
parte de alguns interrogadores, transformando-se em um método científico,
criteriosamente planejado, com a finalidade de obter informações sobre
atividades e/ou indivíduos considerados inimigos da nação. Quando não matava,
deixava danos irreparáveis à psique humana, pois as lembranças do sofrimento
jamais foram apagadas da memória de quem o viveu.
Agora vem à tona uma nova versão sobre
a morte do grande educador Anísio Teixeira (1900-1971) desmentindo a versão
oficial divulgada de que teria caído no fosso do elevador de serviço do prédio
onde morava seu amigo Aurélio Buarque. Foi torturado e morto pela ditadura
militar. Causa revolta e repugnância. Não era comunista e nem militante
político. Foi educador, escritor, ex-reitor da Universidade de Brasília e
sempre defendeu a educação pública de qualidade para todos. É lastimável que na
disciplina História da Educação dos Cursos de Pedagogia nunca dá tempo,
ressalvando quiçá exceções, para estudar a educação brasileira. A História da
Educação Brasileira deveria ser uma disciplina e não uma unidade do programa de
História da Educação.
Ainda temos muitos episódios a serem
esclarecidos como as mortes de: Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek, Ulisses
Guimarães, Castelo Branco e outros.
“Sou contra a educação como processo
exclusivo de formação de uma elite, mantendo a grande maioria da população em
estado de analfabetismo e ignorância”. (Anísio Teixeira).
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários aguardam nossa aprovação. Obrigado por opinar.